Fotos: Marcello Casal/AgĂȘncia Brasil |
O total de casos de violĂȘncia contra profissionais de imprensa registrados em 2016 foi 65,51% superior ao de 2015. Ă o que revela um relatĂłrio divulgado hoje (21) pela Associação Brasileira de Emissoras de RĂĄdio e TelevisĂŁo (Abert).
Apesar do nĂșmero de assassinatos ter caĂdo de oito para dois casos de 2015 para 2016, o total de casos de violaçÔes Ă liberdade de expressĂŁo no Brasil saltaram de 116 para 192 ocorrĂȘncias, atingindo diretamente a 261 trabalhadores e veĂculos de comunicação.
Com 67 ocorrĂȘncias – contra 64 registradas no ano passado -, as genericamente chamadas “agressĂ”es” sĂŁo a forma mais comum de violĂȘncia registrada contra os jornalistas. Sobretudo contra os empregados de emissoras de TV. Em seguida vem os casos de ofensas (22); ameaças (19); condenaçÔes/decisĂ”es judiciais (18) que impedem jornalistas de apurarem um assunto ou divulgar suas descobertas; intimidaçÔes (17); ataques/vandalismos (17); censura (12); detençÔes (7); atentados (6); roubos e furtos (4) e um caso de assĂ©dio sexual.
Segundo a entidade, a maior parte das agressĂ”es Ă© cometida por agentes pĂșblicos, principalmente por policiais, guardas municipais e outros agentes de segurança. “A maioria dos ataques aconteceu durante manifestaçÔes [polĂticas] e, infelizmente, partiu de autoridades pĂșblicas, sobretudo de agentes de segurança, que aparecem como os grandes responsĂĄveis por esse tipo de violĂȘncia contra os profissionais de imprensa”, disse o presidente da Abert, Paulo Tonet de Camargo, defendendo a necessidade das autoridades de segurança capacitarem as forças policiais para lidar com jornalistas no exercĂcio de suas funçÔes.
Os participantes dos protestos polĂticos, seguidos por polĂticos e detentores de cargos pĂșblicos, tambĂ©m figuraram entre os grupos que mais ameaçaram, intimidaram e agrediram profissionais de comunicação no ano passado. “Alguns setores da sociedade tĂȘm uma dificuldade de compreender o real papel dos meios de comunicação no Estado DemocrĂĄtico de Direito. O papel da imprensa nĂŁo Ă© o de ser, em nenhum momento, o protagonista do processo que estĂĄ em discussĂŁo, mas sim reportar os fatos que estĂŁo acontecendo”, acrescentou Camargo.
Dados internacionais
As ocorrĂȘncias registradas em 2016 colocam o Brasil entre os paĂses mais perigosos para o exercĂcio do jornalismo, conforme apontam entidades internacionais como a organização RepĂłrteres Sem Fronteiras, segundo a qual o Brasil Ă© o segundo paĂs mais violento da AmĂ©rica Latina, atrĂĄs apenas do MĂ©xico.
Mesmo que, pela primeira vez desde 2012, o nĂșmero de mortes tenha diminuĂdo em comparação ao ano anterior,
A Press Emblem Campaign (PEC), uma organização nĂŁo governamental (ONG) formada por jornalistas de vĂĄrias nacionalidades que atua como consultora das NaçÔes Unidas, colocou o Brasil entre os dez paĂses de maior periculosidade para a profissĂŁo em todo o mundo, mesmo que, pela primeira vez desde 2012, o nĂșmero de mortes no paĂs tenha diminuĂdo em comparação ao ano anterior.
Quando analisados os dados entre 2012 e 2016, o paĂs figura na 6ÂȘ posição do ranking da ONG, Ă frente das Filipinas, da Ăndia, do AfeganistĂŁo e de Honduras.
“DifĂcil compreender como um paĂs democrĂĄtico e com leis e instituiçÔes em funcionamento como o Brasil pode superar um cenĂĄrio de terror como o afegĂŁo”, pondera o texto do relatĂłrio da Abert.
Censura
O tipo de censura mais comum em 2016 foi a proibição do trabalho jornalĂstico por agentes de segurança que impediram os profissionais de apurar determinados temas ou de simplesmente entrar em locais onde apurariam fatos e registrariam imagens. O problema Ă© mais perceptĂvel nas regiĂ”es Sudeste e Norte.
Entre os 11 censores identificados estĂŁo policiais, polĂticos, bombeiros, mĂ©dicos, manifestantes, estudantes e atĂ© o diretor de um clube de futebol. Para a Abert, a heterogeneidade dos que atuaram para impedir o livre exercĂcio da profissĂŁo demonstra a enorme dificuldade das pessoas em conviver com a transparĂȘncia e a divergĂȘncia de opiniĂ”es.
Em muitos casos, os profissionais de imprensa foram obrigados a se desfazer de imagens que contrariavam os interesses dos envolvidos nas apuraçÔes. Caso do repĂłrter fotogrĂĄfico Marcus Mesquita, do site MidiaNews, de CuiabĂĄ (MT), obrigado por agentes de segurança pĂșblica a apagar as fotos feitas durante o velĂłrio de um policial militar.
NotĂcias falsas
O presidente da Abert falou ainda sobre sua preocupação com a propagação de notĂcias falsas pela internet e a responsabilidade de sites que veiculam essas informaçÔes.
“A proliferação de notĂcias falsas na internet por veĂculos de comunicação que dizem ser plataformas de tecnologia, demonstra que o jornalismo profissional nunca foi tĂŁo importante. A edição [apuração] Ă© a garantia da credibilidade da informação. Hoje, empresas de tecnologia que nĂŁo contam com nenhum profissional apurando as notĂcias se transformaram em empresas de mĂdia e divulgam notĂcias falsas. Por isso propomos que se alguĂ©m quer, empresarialmente, vender publicidade em cima da divulgação de notĂcia, deve ser definido como veĂculo de comunicação e deve estar sujeito Ă regulamentação do setor”.
Fonte: AgĂȘncia Brasil
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