
Pode arrastar o pé, ralar a coxa e
até ralar o bucho. A segunda edição do Forró Nu tem como regra básica que seus
frequentadores estejam sem roupas. Marcado para acontecer no dia 17 de junho,
em Massarandupió, no Litoral Norte, município de Entre Rios, o evento
acirra ainda mais as recentes discussões sobre a prática do naturismo no local.
A R$80 o casal, é possível
participar do vuco-vuco junino no Espaço Liberdade, que fica em um sítio
discreto na localidade, conhecida pelas belezas paradisíacas e por ser a única
praia destinada à prática de naturismo na Bahia. Uma banda de forró pé de serra
vai animar a noite até o sol raiar. “Já temos 40 casais confirmados. Estou
recebendo ligações de todo o país. Peço que as reservas sejam antecipadas o
máximo possível”, anuncia David Andrade, idealizador do evento. Pelo visto, a
coisa vai pegar fogo!
Mas, calma. Não é porque o
forrobodó vai comer no centro que o evento é “all inclusive”. Ninguém deve se
acasalar na frente dos outros. Se a coisa esquentar no salão, os mais exaltados
podem ser convidados a deixar o local. O Forró Nu tem regras. Além de proibir
crianças e permitir apenas casais, tem como base o código de ética do
naturismo, espalhado pela praia de Massarandupió e também nos estabelecimentos
da localidade.
David esclarece que, apesar de ser
para casais, o evento é direcionado também para o público do naturismo. Os
frequentadores devem ‘prezar pelo respeito e bom senso’. “O Forró Nu é um
evento que segue o código de ética, que não permite o sexo em público. As
pessoas me perguntam se é um evento liberal. Liberal é relativo. Certamente
vamos receber casais liberais também. O que posso dizer é que o respeito estará
acima de tudo”, garante David.
Mas a polêmica é muito maior. A
realização do Forró Nu trouxe novamente à tona uma discussão antiga que,
recentemente, virou motivo de batalha na localidade. De um lado os naturistas
tradicionais que são contra a realização desse tipo de festa e acusam as
pousadas de promoverem eventos de suingue que incentivariam a prática do sexo.
Do outro lado, os estabelecimentos admitem que seu público se mistura entre
naturistas e praticantes do suingue, mas dizem que são expressamente contra o
sexo em público.
O fato é que a Associação
Massarandupiana de Naturismo (Amanat), que administra a praia, não apoia a
festa. Tanto que entrou com uma representação no Ministério Público para
impedi-la. A ação foi o ponto de partida para a formulação de um projeto de lei
que estabelece regras de convivência na praia de naturismo. O CORREIO tentou
contato com o presidente da Amanat, César Xisto, para que ele opinasse sobre o
Forró Nu. Mas Xisto não atendeu às ligações ou respondeu mensagens.
Já a Associação Baiana de
Naturismo (Abanat), cujo presidente é um dos fundadores da praia de
Massarandupió, não vê problemas com a festa. “Basta distinguir o que é
naturismo e o que é festa liberal. Pela propaganda lançada por eles eu não vejo
problema. Tem pessoas que são casais liberais. Cada um sabe o que quer e o que
faz. Se for bom para as pousadas, ótimo”, opinou Miguel Gama.
Mesma noite

Vai ser uma noite para ficar
marcada. Na mesma data do Forró Nu, praticamente no mesmo horário, o Arraiá do
Encanto promete reunir casais liberais com direito a buffet junino e DJ. Mas,
neste caso, em vez de evocar o “nu”, o anúncio revela, ironicamente, o
contrário. “fantasia obrigatória”. Não deixa de ser sugestivo. A proprietária
da pousada, Priscila Fernanda, diz que sua festa também proíbe crianças. E que
tudo acontece em um clima de respeito. “O que a comunidade de Massarandupió
quer é respeito. Mas eles não são contra os estabelecimentos
liberais”, diz Priscila.
E os moradores? Estes estão
divididos. Há os que não veem qualquer problema no Forró Nu. Outros acham um
desrespeito à comunidade. Luciano Pereira, presidente da Associação de
Moradores de Massarandupió, não gostaria de ver o nome da localidade atrelada
ao Forró Nu. “Sou contra à forma de divulgação do Forró Nu. Ele não deveria
envolver o nome de Massarandupió. O que ele está anunciando como “Forró Nu
de Massarandupió” é uma festa privada”, argumenta Luciano.
MP quer aumentar fiscalização do
Forró Nu
Além de intermediar as discussões
sobre a elaboração do projeto de lei que estabelece regras de convivência na
praia de naturismo, o Ministério Público alertou a prefeitura de Entre Rios
sobre a necessidade de intensificar a fiscalização do Forró Nu.
“O que sabemos é que parte da
comunidade não está muito satisfeita com o Forró Nu. Então a prefeitura tem que
exigir as garantias sanitárias, de segurança e de acesso restrito do
público” diromotor Paulo César de Azevedo. “Se for um lugar aberto, pode
constranger a comunidade”, acredita o promotor.
“Eu vi também que o espaço dele
não é fechado, não é murado. Para ele fazer um forró desse, teria que
murar o espaço e fazer uma coisa fechada. E divulgar para o grupo dele no watts
app ou site”, defende Luciano Pereira, presidente da Associação de Moradores. A
prefeitura, por sua vez, garantiu que o evento só será realizado se o local for
devidamente cercado, sem que as pessoas que estiverem do lado de fora consigam
enxergar o “esfrega-esfrega” nu.
“Se o lugar for aberto, isso vai
ser um empecilho para a realização do evento. Tem que ser um lugar restrito. O
Espaço Liberdade nos fez uma solicitação. vamos avaliar”, avisa Brígido Neto,
procurador do município. “Se a festa for restrita e a documentação estiver ok,
será liberada”. “Nós vamos fechar toda a área, cercar com palhas. Ninguém de
fora vai enxergar”, assegurou David, que se diz calejado com a situação. No ano
passado, enfrentou alguns problemas para realizar o evento. Chegou a ser
chamado na delegacia e prestou esclarecimentos. “Ano passado o delegado me
intimou e eu fui esclarecer. Eu disse: ‘se for ilegal, proíba!’. Mas tava
tudo certo. Fiz meu evento e foi um sucesso”.
Fonte: Correio
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